A hiperplasia com atipias é uma lesão proliferativa intraductal clonal que aumenta consideravelmente o risco do desenvolvimento de um carcinoma mamário invasor.
Entende-se por hiperplasia um mecanismo de adaptação que aumenta o número de células de um tecido e, por atipia, a alteração do padrão arquitetural e citológico, como tamanho, forma, padrão de crescimento e aparência das células. Tal condição afeta principalmente mulheres com mais de 35 anos e, geralmente, não causa sintomas ou sequer apresenta expressão macroscópica.
Como a hiperplasia atípica das mamas é identificada?
A hiperplasia atípica das mamas normalmente é identificada em exames de rotina, como a mamografia e é associada a microcalcificações em 15-20% dos casos. Apesar de não se tratar ainda de um câncer, a hiperplasia atípica das mamas deve trazer preocupações para o médico e para a paciente, visto que, essa lesão, segundo a Mayo Clinic, aumenta de 4 a 5 vezes a chance de a paciente desenvolver câncer de mama, patologia que se coloca entre as primeiras posições das neoplasias malignas femininas e que, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), causou o óbito de mais de 16 mil pessoas, apenas no Brasil. Em muitos casos, sugere-se como tratamento a remoção cirúrgica da área diagnosticada, pelo risco de associação com carcinoma ductal in situ (CDIS) nas adjacências, além, é claro, do posterior acompanhamento médico.
A hiperplasia atípica das mamas pode ser de dois tipos: ductal ou lobular. Ambos os tipos têm capacidade de malignização, ou seja, de se tornar câncer, e, por isso, são consideradas lesões marcadoras de risco. Para seu diagnóstico são utilizados critérios qualitativos e quantitativos, sendo o principal diagnóstico diferencial o CDIS de Baixo Grau ou o Carcinoma Lobular In Situ. Trata-se, portanto, de uma etapa intermediária entre o tecido normal, o carcinoma in situ e o carcinoma invasivo. Todavia, vale ressaltar que, apesar de existir o risco, a carcinogênese (formação do câncer) nem sempre ocorre, com risco relativo de 13-17%, visto que a evolução para a doença depende de diversos fatores genéticos, imunes e ambientais, por exemplo.
Tipos de Hiperplasias Atípicas
Hiperplasia lobular atípica
A hiperplasia lobular atípica (HLA) é um achado incidental evidenciado em biópsias por agulha, mamotomias ou ressecções de setores de mama, onde essa proliferação clonal não invasiva de células é considerada como um marcador de risco para o desenvolvimento de câncer, com risco relativo de 4 a 5 vezes e 8 vezes se houver expressão pagetoide ao exame histopatológico. Normalmente, por ser um marcador de risco, não há necessidade de conduta cirúrgica mais agressiva, apenas havendo um alerta para seguimento clínico mais criterioso da paciente.
Hiperplasia ductal atípica
Já a hiperplasia ductal atípica (HDA) é uma lesão epitelial intraductal proliferativa também clonal dos ductos da mama e de maior importância clínica. Essa lesão geralmente não se apresenta como uma massa, a menos que envolva uma lesão formadora de volume, como uma lesão papilar e representa 2-14% dos diagnósticos envolvendo biópsias mamárias. No exame histopatológico, as bordas das células são bem definidas e, várias vezes, se misturam com outras proliferações benignas, sendo aqui o critério quantitativo primordial para o diagnóstico diferencial com CDIS de baixo grau, sendo o limite de duas unidades ductais envolvidas por essa proliferação celular ou lesão acima de 2,0 mm de tamanho, reforçando a necessidade de atipia citológica de baixo grau, desde que, para o diagnóstico de CDIS de alto grau, não existe referência para requerimento de volume lesional.
Como a hiperplasia atípica é detectada?
A hiperplasia atípica é normalmente detectada por uma biópsia por agulha ou mamotomia associadas ou não a microcalcificações. Caso o médico patologista diagnostique tal condição, uma biópsia cirúrgica mais ampliada deve ser feita para remover o tecido lesado da mama, visto que não é incomum a associação de HDA e CDIS nas adjacências.
Considerações Finais
Em suma, denota-se que a hiperplasia atípica das mamas pode evoluir para um carcinoma, que a suspeita é levantada durante os exames de rotina (mamografia com evidência de microcalcificações ou distorções arquiteturais) e que o diagnóstico é dado com base na avaliação histopatológica da biópsia pelo médico patologista. Como tratamento, deve-se fazer a excisão da lesão para avaliação de associação com CDIS, continuando com o acompanhamento médico preventivo.
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Texto escrito por:
Dra. Luciana Gomes da Rocha
Diretora Técnica do Pathus Laboratório de Anatomia Patológica. E-mail: [email protected]
Dr. Danilo Rocha de Arruda
Graduando em Medicina. E-mail: [email protected]