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    Todo medicamento possui um para-efeito indesejável, de maior ou menor gravidade, mais ou menos suportável. Quando uma medicação é prescrita deve-se levar em consideração as complicações que podem advir da utilização da droga.

    Esta “balança” entre o benefício do uso do remédio e seus riscos, é comumente denominada de risco-benefício. Se uma determinada droga proporciona pouco benefício e acarreta muito risco, sua utilização não é recomendada. Mas, quando o benefício que ela apresenta é alto, suporta-se um certo grau de risco.

    Este princípio de risco-benefício é muito utilizado na oncologia. Muitas vezes uma paciente não tem indicação de quimioterapia, por exemplo, pois o benefício que a utilização das drogas poderia acarretar é considerado baixo em relação aos seus riscos e complicações.

    É fato conhecido pela comunidade científica que nem todos os pacientes utilizam as medicações indicadas pelos seus médicos. Existem vários motivos para isso: para-efeitos, complicações, falta de confiança ou desconhecimento do benefício, dificuldade de conseguir o remédio, posologia (maneira e frequência de utilização) difícil, custo financeiro e até esquecimento, entre outros. O termo que designa a utilização do remédio é “aderência”.

    Quando se trata de uma medicação oncológica, cujo abandono do tratamento pode significar o retorno da doença, a aderência ao tratamento prescrito é muito importante.

    Um estudo Francês publicado em Junho de 2020 em prestigiada revista científica (Journal of Clinical Oncology) avaliou a detecção no sangue (nível sérico) de Tamoxifen em pacientes na pré-menopausa com câncer de mama e correlacionou com o desfecho clínico (metástases em órgãos distantes e morte).

    Importante frisar que o tamoxifen é uma droga utilizada mundialmente, há muito tempo, em pacientes com câncer de mama que apresentam tumores com receptores hormonais positivos. Seu benefício é inquestionável, seja para reduzir mortalidade ou retorno do tumor, seja para prevenir o aparecimento de tumores em mulheres com risco aumentado para câncer de mama.

    Por ser uma droga há muito utilizada seus para-efeitos e complicações são bastante conhecidos (no site cancerdemamabrasil há um texto específico sobre Tamoxifen dentro do projeto: Medicações para o câncer de mama).

    Os médicos franceses avaliaram 1177 mulheres na pré-menopausa com câncer de mama com receptores hormonais positivos que tinham sido prescritas com tamoxifen (cuja utilização recomendada é de pelo menos 5 anos). Um ano após a data da prescrição eles fizeram dosagem do Tamoxifen no sangue das pacientes, para avaliar a concentração da droga, além de um amplo questionário.

    Cento e oitenta e oito pacientes (16%) apresentaram taxas de Tamoxifen no sangue consideradas como insuficientes, e foram classificadas como “não-aderentes”.

    Múltiplos fatores foram associados às pacientes consideradas não-aderentes. Entre eles destacaram-se: paciente sem parceiro, com mais comorbidades (outras doenças) e que não receberam quimioterapia. A presença de sintomas músculo-esqueléticos e de fadiga (cansaço) severo após o uso do tamoxifen também foram correlacionados à não-aderência.

    Após uma média de 2 anos da prescrição da medicação foram comparados os grupos (aderentes versus não-aderentes) em relação a desfechos clínicos (presença de metástases em órgãos distantes e morte). Foi observado um maior risco para estes eventos desfavoráveis no grupo não-aderente.

    Este artigo ressalta a importância da relação médico-paciente no seguimento das pacientes operadas por câncer de mama. É um direito da paciente esclarecer todas suas dúvidas e apreensões em relação ao tratamento, ainda mais quando ele é longo (utiliza-se terapia hormonal por no mínimo 5 anos). O simples ato de abandonar o tratamento, ou de utilizar a medicação eventualmente, pode acarretar complicações sérias.

    A relação médico-paciente deve ser de sinceridade e confiança mútua. Se você está desconfortável e deseja parar a medicação, discuta com seu médico e veja quais opções estão disponíveis. Se a opção final for o abandono do remédio, avise a equipe médica, não tenha “vergonha” ou “medo de ser hostilizada”. A equipe sempre apoiará sua decisão.


    Autores:

    Portal Câncer de Mama Brasil

    Dr. Eduardo Millen • Rio de Janeiro/RJ – CRM-RJ: 5263960-5
    Dr. Felipe Zerwes • Porto Alegre/RS – CRM-RS: 19.262
    Dr. Francisco Pimentel Cavalcante • Fortaleza/CE – CRM-CE: 7.765
    Dr. Guilherme Novita • São Paulo/SP – CRM-SP: 97.408
    Dr. Hélio Rubens de Oliveira Filho • Curitiba/PR – CRM-PR: 20.748
    Dr. João Henrique Penna Reis • Belo Horizonte/MG – CRM-MG: 24.791

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