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    O câncer de mama hormônio positivo é o mais comum subtipo do câncer de mama. É uma doença que expressa receptores hormonais em suas células, dependendo portanto da via hormonal para se dividir e se espalhar pelo corpo. O tratamento medicamentoso mais comum desta doença é a hormonioterapia, através do uso de bloqueadores hormonais para impedir a alimentação destas células pelos hormônios naturais do corpo. Estas terapias são utilizadas geralmente por 5 a 10 anos. Entretanto, apesar do tratamento, quase um terço dessas pacientes apresentarão algum tipo de recorrência, sendo que metade delas será 5 anos após o início do tratamento, especialmente aquelas com doença de alto risco (tumores com maior proliferação, doença linfonodal axilar confirmada ou grandes tumores)

    Os inibidores de CDK 4/6 ou simplesmente “inibidores da ciclina”, como tem sido popularmente mais conhecido, ganharam muito destaque no tratamento “hormonal” nos últimos anos, sendo o tratamento preferencial da doença hormônio positivo metastática (quando a doença acomete órgãos a distância da mama). Há 3 drogas disponíveis dessa classe no mercado (palbociclibe, ribociclibe e abemaciclibe) e diversos estudos randomizados bem controlados demonstraram excelente controle da doença associada a hormonioterapia padrão. No câncer de mama recém diagnosticado, ou inicial (não metastática), por outro lado, o tratamento “hormonal” atual se baseia nos inibidores de aromatase (anastrozol, letrozol ou exemestane) ou tamoxifeno, por 5 a 10 anos, associado ou não a supressão ovariana na pré-menopausa (mulheres que ainda menstruam) a depender do risco da doença. Não temos (ou tinhamos) nenhum dado sobre uso de inibidores da ciclina na doença inicial.

    Hoje, a Eli Lilly, empresa farmacêutica detentora da medicação abemaciclibe, lançou um comunicado mundial informando que o estudo MONARCHE, com esta medicação no cenário “inicial”, atingiu seu endpoint primário, que no caso foi sobrevida livre de doença invasiva. O que representa isso? Significa que as mulheres que usaram o abemaciclibe associado a hormonioterapia padrão neste estudo (cerca de 5.637 pacientes foram incluídas na análise) tiveram menos recorrência do seu câncer. A empresa planeja realizar a apresentação destes dados até o final do ano em algum evento médico importante de câncer de mama.

    Estes dados podem mudar a prática clínica? A resposta é: possivelmente SIM. Óbvio que precisamos ver os dados do estudo para sabermos a magnitude do benefício. Estas drogas não têm o mesmo perfil de efeitos adversos da hormonioterapia padrão como conhecemos atualmente. Em geral, tem um perfil pior: neutropenia, alteração no eletrocardiograma e diarréia são alguns dos exemplos dos efeitos colaterais destas medicações, além de certamente o custo muito elevado. Saber a relevância clínica obtida neste estudo será portanto fundamental.

    O que já sabemos? As pacientes incluídas no estudo são de alto risco, que foi definido por tumores invasivos com 4 ou mais linfonodos positivos ou 1 a 3 linfonodos e pelo menos um fator de risco adicional (tumor ≥5cm, GRAU III, índice de proliferação ≥20%). Portanto, mesmo que os resultados sejam relevantes, é possível supor que boa parte das pacientes com câncer de mama inicial hormônio positivo não precisarão usar essa medicação. Aguardemos a apresentação completa do estudo até o final do ano.

    Autores:

    Portal Câncer de Mama Brasil

    Dr. Eduardo Millen • Rio de Janeiro/RJ – CRM-RJ: 5263960-5
    Dr. Felipe Zerwes • Porto Alegre/RS – CRM-RS: 19.262
    Dr. Francisco Pimentel Cavalcante • Fortaleza/CE – CRM-CE: 7.765
    Dr. Guilherme Novita • São Paulo/SP – CRM-SP: 97.408
    Dr. Hélio Rubens de Oliveira Filho • Curitiba/PR – CRM-PR: 20.748
    Dr. João Henrique Penna Reis • Belo Horizonte/MG – CRM-MG: 24.791

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