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    Sempre acreditei na minha invencibilidade. Na capacidade de resolver todas e quaisquer questões do cotidiano de forma prática, célere e individualizada. Posso dizer que Lynda Carter, a ex-miss Mundo Estados Unidos que deu vida à Mulher-Maravilha na década de 1970, tinha uma forte concorrente. Obviamente que não se tratava de uma disputa no campo da beleza helênica. Até porque Lynda foi eleita a mulher mais bonita da Terra pela International Academy of Beauty e pela British Press Organization. Sempre foi imbatível. Porém, inspirada nos dotes sobrenaturais da personagem que ela encarnava para a cultuada série de Tv, tinha uma convicção quase que infantil de deter os poderes da super-heroína da DC Comics, de origem greco-romana, alter ego da princesa Diana de Themyscira. Até que, em maio de 2019, eu descobri um câncer na mama direita.

    O diagnóstico de um tumor de 2 cm, mas que se apresentara com 5 cm durante a cirurgia, sinalizou que todos os superpoderes me estavam sendo retirados. Não tinha mais a força de Hércules, a sabedoria de Atena, a beleza de Afrodite e nem a velocidade de Hermes. O fator de cura regenerativo, a dádiva que permite à Mulher Maravilha recuperar-se de lesões corporais ou doenças em uma taxa sobre-humana, era um mito. Dei-me conta no dia em que meu mastologista e cirurgião informou que, pela natureza do câncer, eu precisaria me submeter à quimioterapia e, em seguida, à radioterapia. Não sou mastectomizada. Fiz uma cirurgia conservadora, impressionantemente bem realizada, cuja cicatriz mal se percebe a olho nu.

    Por ser negra, temi por um instante o surgimento de um queloide, pois que 5% a 16% dos indivíduos afro-descendentes, asiáticos e hispânicos apresentam maior probabilidade de formá-los em relação às outras etnias. Mas o que seria um queloide diante da retirada de um câncer? Agradeci emocionada ao médico. Muito mais pela possibilidade de rever a minha condição humana (e não sobrenatural) do que pela não cicatriz. A velocidade do tempo diminuiu. Os dias se acizentaram. A percepção da finitude da existência se intensificou. Como uma mulher que jamais fora atingida pelos anti-heróis da vida se encontrava agora em tamanha vulnerabilidade? Chorei, entristeci, enlutei. Tive de tirar os poderosos braceletes de Mulher Maravilha e colocar o meu braço esquerdo à prova de oito infusões de substâncias quimioterápicas. O cabelo rareou. Optei por raspar de vez a cabeça, assumindo diante do espelho a ausência que me fazia compreender o presente. Não quis usar peruca, lenços, turbantes. Nada. Despi-me da vaidade. Vesti-me de esperança e fé.

    Aos poucos, também fui tirando a fantasia da poderosa Amazona das histórias em quadrinhos. Os braceletes indestrutíveis ficaram na sala de quimioterapia. A tiara, o laço mágico e a espada eu os deixei na recepção da clínica, na saída da última das 25 sessões de radioterapia a que me submeti. Não senti absolutamente nada durante o tratamento radioterápico. Talvez porque tenha decidido não brigar mais contra o câncer. Eu o libertei. Eu o aprisionava. Esse, sem dúvida, foi o meu maior ato de heroísmo extraficcional, no mundo real no qual a Mulher Maravilha virou até Embaixadora Honorária da ONU para as Mulheres e Meninas, com a missão de dar visibilidade ao 5º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que tem como meta alcançar a igualdade de gênero até 2030. Entre a ficção e a realidade, não importa, triunfa-se notoriamente em coletivo sobre os cânceres sociais, tal qual eu venci privativamente, mas não só, o câncer de mama.

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